sexta-feira, julho 28, 2006

Mar de emoções


Assim que chegou enterrou os pés na areia. Fechou os olhos e sentiu a brisa a bater-lhe na cara. Cheirou aquele cheiro a mar que tanto adorava e foi em direcção à beira-mar.
Estava maré baixa e a praia deserta, comparou a praia há sua vida: deserta. Desde que ele se tinha ido embora tudo ficou deserto, todos os sentimentos se perderam num turbilhão, todos os momentos se perderam num vendaval e tudo o que ficou dito desapareceu, só restou a dor e a vontade de mudar tudo, construir uma máquina do tempo e voltar atrás.
Recordou os seus olhos... Lindos! O cheiro do cabelo, o encaracolado, as mãos... Recordou cada poro da pele dele, cada cheiro que ele tinha, lembrou-se de todas as expressões dele, principalmente do sorriso.
Recordou todas as promessas, todos os planos, todos os momentos daquele amor maior que o mar...

Chorou.

Durante muito tempo ficou ali imóvel, sem saber o que fazer, sentindo uma mão cheia de sentimentos, ora felizes, ora tristes. Sentia tanto a falta daquele ser que lhe encheu os dias durante tanto tempo, tinha saudades de ser amada como só ele sabia ama-la, tinha vontade de o abraçar, de lhe ver os olhos e beijar a boca. Saudades de lhe sentir o cheiro do cabelo quando lhe dava beijinhos no pescoço, dos abraços fortes onde lhe pedia em silêncio que nunca a deixa-se.
Sem saber o que fazia, ou talvez com a maior da lucidez foi de encontro ao mar. Estava frio, não havia muitas ondas, apenas uma ondulação. Encheu-se de água até aos tornozelos, depois aos joelhos, cintura, peito até que ficou submersa, a sentir-me rodeada por todos os lados, por todos os orifícios do seu corpo. Tremia de frio, começou a chover. O céu ficou cinzento e as nuvens uniram-se como que para ver o espectáculo.
Debaixo de mar, fechou os olhos. Imaginou-o uma última vez, o ultimo beijo e beijou o mar como se fosse ele. Entregou-lhe o corpo e a alma, num gesto de desespero. Já não sentia frio, e as gotas da chuva já nem as sentia. Lentamente sentiu-se levar... A ultima coisa que viu foi o seu rosto, antes de adormecer, de se entregar...

... Sorriu


Foto: Anacanela

sexta-feira, julho 21, 2006

Quando A Chuva Passar


Pra que falar?
Se você não quer me ouvir
Fugir agora não resolve nada

Mas não vou chorar
Se você quiser partir
Às vezes a distância ajuda
E essa tempestade um dia vai acabar
Só quero te lembrar
De quando a gente andava nas estrelas

Nas horas lindas que passamos juntos

A gente só queria amar e amar

E hoje eu tenho certeza
A nossa história não termina agora
Pois essa tempestade um dia vai acabar
Quando a chuva passar
Quando o tempo abrir
Abra a janela e veja: eu sou o sol
Eu sou céu e mar
Eu sou seu e fim

E o meu amor é imensidão


Ivete Sangalo


Foto tirada da net

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terça-feira, julho 18, 2006

Contar estrelas



Lembras-te daquela noite em que contamos estrelas debaixo do teu guarda-chuva azul e branco? Chovia muito, a cidade estava deserta e o odor da chuva pairava no ar. Não se viam carros na rua, nenhum animal a remexer no lixo nem se ouvia barulho, só o das gotas grossas e frias que embatiam no guarda-chuva e nos vidros dos carros, das casas. Era delicioso sentir o frio, e logo eu que adoro o frio, era bom sentir as gotas na cara, mas o melhor era sentir o teu braço há volta das minhas costas para te aqueceres.
Naquela noite contamos a estrelas debaixo do teu guarda-chuva azul e branco, fizemos promessas e pedimos desejos às estrelas cadentes que víamos passar. Naquela noite o som da chuva era a minha música preferida e o teu abraço aquecia-me mais que qualquer aquecedor, ar condicionado ou cobertor. Naquela noite dançamos há chuva, uma dança só nossa que muitos considerariam louca pelos gestos desalinhados que fazíamos. Naquela noite o mundo parou só para nós, o tempo parou só para nos ver dançar e as estrelas riam de nos e do nosso amor. A Lua essa, escondia-se entre as nuvens tímida sonhado também com um amor assim, como o nosso. Naquela noite, debaixo daquela chuva, o mundo sentiu ciúmes de nós, por nos amarmos assim, por nos entregarmos assim, por nos beijarmos e tocarmos assim.
Depois daquela noite nada foi igual, tinha sido como um pacto, tinha reforçado aquilo que sentíamos e o principal, tínhamos mostrado ao mundo inteiro o que nos unia, o quando nos gostávamos e desejávamos e que nada, nem essa traiçoeira força que nos move, a que chamam destino, poderia impedir-nos… Depois daquela noite tudo foi diferente e no final só a lembrança de uma noite debaixo de chuva onde nos amamos como nunca ficou, o resto o destino levou, apoderou-se de nós e o inevitável aconteceu.
Não, o amor não acabou, esse nunca vai acabar, porque foi único, foi só nosso, ficará para sempre. O que nos afastou foi a vida, o destino, o inevitável, aquilo que acontece e temos de aceitar porque mais nada podemos fazer.
Perdemos os momentos, mas o amor esse, ficará para sempre, porque um amor como o nosso nunca morre, adormece, alimenta-se dos sonhos e memórias que guardamos e fica guardado naquele cantinho para quando surgir uma outra noite de chuva podermos contar estrelas debaixo dum guarda-chuva qualquer e pedir desejos ás estrelas.



Foto tirada da net
19/7/2006

segunda-feira, julho 17, 2006

Palavras soltas


Queria contar-te uma história, daquelas com um final feliz, cheia de amor. Mas não sei nenhuma… perdi-as todas quando me apaixonei por ti.
Queria dizer-te mais que palavras… mas não sei dizer mais nada, nem falar outra língua se não a dos homens, aquela que tu me ensinas-te.
Queria poder ser uma borboleta para te pousar no ombro, para poderes olhar para mim, para eu poder sentir o teu cheiro e ver-te mais uma vez, uma ultima vez…

Ahhh…!

Como eu queria ser tempo para poder fazer tudo voltar a traz.
Como queria ser vento, chuva e mar, só para te acariciar dum jeito que nunca ninguém será capaz. Como eu queria… Queria!

Queria poder dançar contigo uma dança que nem eu sei! Passear contigo de mãos dadas à beiro do rio, ouvir o som da tua gargalhada…
Como eu queria ser o teu tudo e o teu nada, como eu queria ser o teu sim e o teu não.
Mas tudo o que quer, tudo o que grito e sinto não passam mais do que palavras soltas que tu nunca irás apanhar...

Ahhh…!



Foto tirada da net
5/6/2006

quarta-feira, julho 05, 2006

Nós dois


Lá fora o vento batia forte e as gotas de chuva começavam a cair. Era noite, já estava escuro e no céu as estrelas escondiam-se a traz das nuvens.
Fechei a janela e regressei à sala quente e confortável onde tu dormitavas no sofá perto da lareira. A TV desliguei-a quando entrei e o teu rosto iluminado pela luz do fogo tornava-te ainda mais bonito. Sentei-me na cabeceira do sofá e murmurei-te baixinho ao ouvido: “Ficas lindo assim…”. Dei-te um beijo na boca e estremeces-te abrindo os olhos cheios de sono. Disseste-me “Olá” e perguntas-te as horas. Disse-te que era tarde e que devias vir para a cama. Como resposta apertaste-me forte e impeliste-me a deitar contigo no sofá que mal dava para uma pessoa. Sussurraste-me ao ouvido que me amavas e o mundo parou para me sentir a mulher mais feliz do mundo, só por te ter comigo.
E ali ficamos os dois, no sofá, presos um no outro a olhar para o fogo que se consumia, a ouvir cair lá fora a chuva e a observar através da vidraça, as arvores a baloiçar lá fora de um lado para o outro, acreditando que aquele momento fosse para sempre.



2005