sexta-feira, março 21, 2008

Grão de areia


Desço até ao mar, esta tudo vazio, nada nem ninguém se vê. Soltos as recordações amarrando-as na cauda do vento com esperança que alguém as leve e eu consiga ser finalmente feliz. A culpa é tanto minha como tua, perdemo-nos os dois, eu já não te conheço e tu já não me sabes de cor. Procuro o fundo do horizonte na tentativa de me esquecer. Sinto-me como uma caçadora de sois, sentada a beira-mar, pelo céu as cavalitas, os raios de luz são os teus cabelos, as nuvens os teus olhos, mas não te vejo.

Estou cansada de correr atrás de ti silenciosamente, na sombra. Cansada de me magoar a cada dia que passa com a saudade que me fazes sentir. Não tuas. Do que fomos, do que fui contigo, dos momentos que passamos juntos. Estou cansada do bater descompassado do meu coração sempre que te vê ou ouve o teu coração, já lhe disse que não adianta, mas ele teima em correr. Insiste que tu é que mandas e eu insisto que não… Quero acreditar que não.

Já se fez noite, já não vejo o horizonte e ficou tudo negro de repente, já não vejo os teus olhos em forma de nuvem nem sinto os teus caracóis como raios de sol. Agora vejo as estrelas que tantas vezes contamos juntos, as promessas que ficaram por cumprir, os sorrisos tolos de quem ama. Dói. Não porque te perdi, mas porque não se soube guardar. Já nem o mar me acalma, está cansado como eu, já não quer correr, prefere andar, romper na areia e perder-se nela. Também eu queria ser assim.

Apetece-me apertar nos braços o mundo, perder-me de ti para me poder encontrar. Sinto-me cheia de sonhos e vazia ao mesmo tempo. Tu preenches-me sem me preencheres. Já não fazes parte de mim mas não te consigo largar. Apetecia-me ser grão de areia e perder-me em todos aqueles que me pisam, agarrar-me entre meios dos dedos de alguém que me saiba amar e lá ficar.


Foto:Splash_by_dbaeta

Mpalma

21/3/2008