Há
quem morra para a vida porque o coração deixa de bater, há que morra porque a
vida chegou ao fim e nada mais existe para viver, mas há quem lhe morra o
espirito e a alma, que é quase a mesma coisa quando o coração deixa de bater.
É preciso respirar-se amor, paixao, sol, mar, terra. É preciso cuidar-se do espirito e da alma, ser-se nos proprios, ouvir as nossas músicas, sentir os nossos pés no chão, no ar, correr, rir, rir desesperadamente… E preciso viver-se para não se morrer aos vinte.
É preciso respirar-se amor, paixao, sol, mar, terra. É preciso cuidar-se do espirito e da alma, ser-se nos proprios, ouvir as nossas músicas, sentir os nossos pés no chão, no ar, correr, rir, rir desesperadamente… E preciso viver-se para não se morrer aos vinte.
Quando
nos morre o espirito perdemo-nos do mundo, da vida, de nós, dos outros.
Deixa-se de sentir a vida, o chão, os cheiros, não existem cores, nem amores,
nem verao nem inverno. Enche-nos apenas o vazio, a solidão, as memorias, sobrevive-se
ao dia-a-dia.
Lembro-me
do cheiro do mar e de quando fechava os olhos e simplesmente sorria, quando me
sabia bem a areia por entre os pés, o vento frio na cara debaixo dos lençois, a
calma do coração quando acaba de ler um livro e o sentimento de plenitude que
fica, a chuva na cara e o cheiro da terra molhada, o respirar fundo sem
suspirar. Lembro-se do sabor do sal e do sol na minha pele e da fome de
conhecer paredes, ruas, esquinas, de bater a portas e correr. Lembro-me da paz
das noites de verão quando o calor era imenso, lembro-me dos sorrisos perdidos,
da vontade de correr e de ir , ir e não parar e da entrega.
Lembro-me da saudade e do sentimento bom depois do reencontro, das noites a contar estrelas debaixo de chuva, debaixo de luas. Lembro-me dos campos de girasois, das maos debaixo da mesas, da inocencia, da paixão, sim da paixão. Da calma, das guerras de amor e paz, dos dilemas, das músicas, das cidades que não conheci dos ramos de flores e das rosas roubadas e dos espinhos, do sal das lagrimas a cair, dos arrepios, de sorrir com os olhos, de andar sem correr.
Lembro-me
das conquistas, do jogo de sombras e corpos, da sedução, da sensualidade, da
cumplicidade e do silencio das palavras, de ver o mundo atraves de outros olhos,
do abraço forte, de me reconher ao espelho, de acredidar no “para sempre”, do
coração a bater forte, das borbuletas no estomago, da sede de cultura e
injeções de conversas soltas, da liberdade, sim da liberdade e da independencia
que se conquistou, dos beijos com sabor a sal, caramelo e afins.
Lembro-me
de mim, de quem era e de quem fui e agora sou, do futuro que idealizei, das
esperanças, das pessoas e das coisas, das caras e das sombras. Lembro-me de mim.
Morrer aos vinte é isto, sentir-se que o futuro é aquilo que já conhecemos no presente, é viver-se de lembranças e alimentar-se do que já se sentiu, é seguir em frente porque o tempo urge e a vida segue dia após dia conosco de arrastão. É ensinar quem se quer que existe tudo isso para que vivamos através de outros porque nós morremos por dentro. Porque alguem nos roubou de nos mesmos e nos prendeu num presente qualquer do qual nos fomos deixando estar, porque agora as janelas estao trancadas e as portas vigiadas para que tudo seja como agora, que nada esteja fora do lugar, para que a rotina continue, porque o medo é maior.
É
cronometrar e viver em funçao de, é deixar de se ser quem e porque não se pode,
é esquecemo-nos de nos, de quem fomos, dos sonhos, dos desejos e de tudo aquilo
de que somos feitos e viver-se na mentira de uma aparente felicidade até cair o
pano da noite porque so assim nos reencontramos, só nesse momento existe paz e
tudo é permitido.
Como
sinto falta de mim.
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