domingo, julho 28, 2019

Surdez


E é tão isto que sinto... que estás tão surdo nesse teu novo mundo em que nem há lugar para os velhos amigos. E é tão disto que tenho medo, que fiques surdo durante mais não sei quantos anos, e que desta vez tenha mesmo passado toda uma vida por nós. 
Que caminhos percorres agora? Que culpas carregas? Que coisas te enchem o coração? Que música não te sai da cabeça? Quais são os novos planos? É assim tão mais fácil apagar tudo e silenciar tudo? Esquecer que existiu um mundo lá fora? 
Sinto-te tão perdido que nem eu sei explicar... só sei que sei. E por muito que tente viver, que tente esquecer, há dias em que há um vazio cá dentro tão grande e só me surges tu. Tu que silenciaste toda a história que poderíamos escrever paralelamente, lembras-te? Já passou mais de uma década, e estou tão cansada de te ter por aqui, sem respostas ou pontos finais. Que raio de droga é está? Que loucura ainda não diagnosticada?
Seja lá o que for que estejas aí a fazer, não te percas, não te culpes, não te escondas, não duvides do quanto és, não acredites que não chegas, não deixes de acreditar, não afastes os que são verdadeiros, não menosprezes o que sentes no fundo de ti... és tão mais do que acreditas ser. 
Talvez tenha tido o privilégio, um dia, de conhecer o teu espírito, mais que ao teu corpo, talvez um dia nos tenhamos magoado mutuamente pela racionalidade que tanto nos exigem.. mas acredita. Acredita que te conheço por dentro e que talvez seja eu aquela que te aceita como és, sem julgamentos alguns e que está aqui, estará aqui, sempre e para sempre. Não fiques surdo, ouve o que no fundo sabes, não te transformes em mais uma ovelha do rebanho, mantém-te firme
Se voltares a ouvir... estarei aqui. 

sexta-feira, julho 12, 2019

Utópico

Há coisas que perderam o sabor desde que aceitei está nova realidade de que não és a minha metade. Há coisas que inevitavelmente mudaram e a maior fui eu. Eu que passei a ser gelo e a não acreditar em finais felizes, a desejá-los sim, mas a não acreditar e a desconfiar de tudo e de todos. 
Às vezes dou por mim a analisar pessoas, casais mais propriamente. Chega a este ponto a loucura que se instalou em mim. Hoje fui ao MacDonald’s, não que seja o lugar mais romântico do mundo, mas porque houve uma altura feliz da minha vida em que sentada sozinha a tua espera, era feliz só por saber que existiria o momento a seguir. Hoje dou por mim a analisar os olhares e a linguagem corporal dos casais... e só acho tudo tão vazio. Onde ficam os olhares? A admiração expressa na cara daquele que olha na sua simplicidade para quem lhe dá conforto e alegria? Devo ter vivido qualquer coisa utópica contigo, porque quase nunca consigo ver casais cúmplices um do outro apenas com olhares.. ou terei sido sempre eu a acreditar que tinha algo assim. A verdade é que hoje só vês pessoas a comerem, a observar igualmente os outros talvez perdidas nos seus pensamentos infelizes ou aspirações ainda não conquistadas. Pessoas que se perdem digitando num qualquer telemóvel, apenas as vezes pra evitar o desconforto do silêncio. Até isso eu acreditei que nunca tive contigo, sempre achei que mesmo em silêncio conseguíamos dizer tudo e nada e que muitas vezes era suficiente só olhar nos teus olhos onde um dia vi todo o meu mundo lá dentro.
A vontade de chorar voltou por estes dias, não sei porque, não sei como. Só sei que voltou. Só sei que me dói a alma e o coração, mesmo que digam que o coração não dói. Talvez esteja simplesmente cansada de estar sozinha, talvez seja a falta dos silêncios utópicos de antigamente, ou talvez seja só porque te continuo a fazer o luto....
Talvez um dia eu volte a acreditar que tudo o que vivemos foi bom, e que alguém conseguirá fazer diluir tudo isto da minha pele e da minha memória. Talvez de uma forma mais calma e madura eu consiga um dia voltar a acreditar no amor sem cobranças, nos silêncios perfeitos, no sabor do ketchup com molho de batatas e dos sundays de caramelo. Hoje só sei que me tornei gelo, desacreditada, e que talvez não tenha sorte nem ao jogo nem ao amor.