quarta-feira, dezembro 28, 2022

Quem me dera que me pudesses ouvir

O quente da água quase a queimar a pele, a dor que deixa de ser física e passa a ser cá dentro. Mais e mais. O cansaço de estar (semi)viva neste mundo estranho. O desejo de entender, de crescer, de sentir mais que isto. Sinto demasiado, quero demasiado, e isso é um problema. 

A dor mudou e eu (ainda) não aprendi a viver com esta, e há dores que já não fazem sentido depois de ti. O incógnito, o karma e o aprendizado, que supostamente tenho de aprender, esmagam me cada vez mais. Fazem doer cada vez mais. O sentimento de impotência, de desalento, de não ter colo onde chorar todo o mar que começa a transbordar. Temo um tsunami, mas sei que se tanto ainda não me fez quebrar, não será agora.

Mas esta dor é diferente, e eu (ainda) não sei viver com ela. Doem me os pés de tanto caminhar e não chegar a lado nenhum. Doem me os braços de continuamente acenar e ninguém me ver. A voz quase gasta e calada por falta de quem realmente ouça, transforma-se em linhas e parágrafos e frases e textos. Não existem alternativas democráticas e empáticas, sem ser assim. 

Cansada de ser eu, deste fardo tão pesado que é almejar a perfeição, da máquina em que me querem tornar quando sou somente alguém de carne e osso. Cansada do esforço do dia a dia, sabendo que provavelmente nem frutos nem reciprocidade futura. Sou demasiado pequena para tanto mundo, tanta mágoa, tanto descrer. Começo a questionar a minha sanidade mental, aquela que me fez permanecer aqui sem ter cometido crime algum, seja ele de que tipo for. Começo a questionar a necessidade de mim aqui, do agora, do depois e do antes. Para que? Porque? 

Sinto falta de algumas certezas. Sinto falta de saber que tenho em mim todos os sonhos do mundo... desfeita, refeita, partida, colada. São estas as fases, não podem ser outras, não me deixam ter outras. Não sei se é mais triste ser assim ou o contrário, e já nem as velhas técnicas de antigamente funcionam.. talvez porque no antigamente eu era outra e até tinha algumas certezas e os todos os sonhos do mundo. 

MPalma

2020

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